quinta-feira, 1 de março de 2012

THE BEATLES - A CONQUISTA DO OESTE - PARTE 1




O dia 7 de fevereiro de 1964 é um dia histórico na carreira dos Beatles e da cultura pop! Embora a banda experimentasse uma popularidade enorme nas paradas britânicas no início de 1963, a gravadora norte-americana Capitol Records, subsidiária da EMI (em que o grupo estava contratado), negou produzir os compactos "Please Please Me" e "From Me to You", primeiro sucesso do grupo que alcançou primeiro lugar no Reino Unido. Se a produção acontecesse de primeiro momento, o grupo inglês arriscaria, na mesma época, sucesso nos EUA. A Vee-Jay Records, uma pequena gravadora de Chicago, lançou esses singles como parte de um negócio para os direitos de outro intérprete. Art Roberts, diretor musical da estação de rádio World's Largest Store (WLS) de Chicago, incluiu "Please Please Me" na rádio em fevereiro de 1963, provavelmente a primeira vez que foi ouvida uma canção dos Beatles no território americano, embora isso seja discutido; os direitos da Vee-Jay aos Beatles foram cancelados mais tarde por não pagamento de royaltys.


Em agosto de 1963, a Swan Records lançou "She Loves You", que também não foi executada nas rádios. Em 3 de janeiro de 1964, Jack Paar mostrou em seu programa uma apresentação de "She Loves You" gravada ao vivo na Inglaterra: foi a primeira aparição dos Beatles na televisão americana. Embora tivessem feito sucesso rapidamente na Inglaterra e sido igualmente bem sucedidos em alguns países europeus, os Beatles ainda não tinham conquistado o mercado norte-americano. Pensando em conquistar os Estados Unidos, Brian Epstein, no começo de novembro de 1963, procurou o presidente da gravadora Capitol Records para lançar um single com a canção "I Want To Hold Your Hand", e conseguiu firmar um contrato com um popular apresentador de televisão americano, Ed Sullivan, para que os Beatles fossem até lá se apresentarem em seu programa. Antes da Capitol, como já foi citado, algumas gravadoras já haviam lançado discos dos Beatles naquele país, como a Vee-Jay e a Swan, mas nenhum sucesso tinha sido obtido. Embora não houvesse grandes expectativas pela Capitol em relação aos Beatles, a CBS (canal de televisão americano) apresentou um documentário de cinco minutos sobre o fenômeno da beatlemania na Inglaterra, no programa CBS Evening News. A primeira demonstração desse pequeno documentário seria mostrada de manhã no CBS Morning News em 22 de novembro e uma reprise passaria na tarde do mesmo dia no CBS Evening News, mas a transmissão foi cancelada por conta do assassinato de John F. Kennedy naquele dia.

Diversas estações de rádio nova-iorquinas já começavam a tocar "I Want to Hold Your Hand" na sua programação. A resposta positiva para a gravação que havia começado em Washington duplicou em Nova Iorque e rapidamente se espalhou a outros mercados. A gravação vendeu um milhão de cópias em apenas dez dias, e a revista Cashbox certificou-a como número um. Era o momento dos Beatles irem aos Estados Unidos.

No começo de 1964, a Capitol decidiu fazer valer a pena os direitos que detinha do grupo nos Estados Unidos para coincidir com a primeira excursão da banda à América. Brian Epstein foi um dos grandes responsáveis pela data marcante. Indo a Nova Iorque, elaborou com a Capitol uma mídia enorme: foram colocados seis milhões de cartazes pelas ruas dos EUA com mensagens do tipo "Os Beatles Vem Aí"; todos os discotecários das rádios receberam discos dos Beatles; e foram distribuídos um milhão de jornais com quatro páginas contando a carreira do grupo. Essa elaboração de expectativa de que um grande grupo estaria vindo em direção foi a mais importante viagem na carreira dos quatro integrantes.

Em 7 de fevereiro de 1964, uma multidão de quatro mil fãs ingleses no Aeroporto Heathrow acenou para os "garotos de Liverpool", que partiam pela primeira vez aos Estados Unidos como um grupo. Estavam acompanhados por fotógrafos, jornalistas (incluindo Maureen Cleave, que realizou entrevistas com diversas personalidades famosas), e pelo produtor musical Phil Spector, que se tinha registrado no mesmo voo. Quando o voo 101 da PanAm tocou o solo do recém-nomeado Aeroporto JFK em Nova York, às 13h20 da tarde do dia 7 de fevereiro de 1964, uma grande multidão de pessoas se aglomeraram no local. Os Beatles foram saudados por cerca de três mil pessoas (estima-se que o aeroporto nunca tenha experimentado tal número). Após uma coletiva de imprensa, os Beatles partiram em limusines para a Nova Iorque. No caminho, McCartney ouviu o seguinte comentário corrente numa rádio local: "Eles [The Beatles] acabaram de deixar o aeroporto e estão próximos de Nova Iorque…" Quando alcançaram o Plaza Hotel, foram recepcionados por diversos fãs – a maioria garotas – e repórteres. Harrison teve uma febre de 39 ℃ no dia seguinte e teve que permanecer em repouso, de modo que Neil Aspinall o substituiu no primeiro ensaio da banda para a aparição deles no The Ed Sullivan Show. A persuasão de Epstein havia dado certo.

Os Beatles fariam sua primeira aparição ao vivo na televisão americana no The Ed Sullivan Show, em 9 de fevereiro de 1964. Aproximadamente 74 milhões de telespectadores – cerca da metade da população americana – assistiu o grupo tocar no programa.

Essa primeira visita dos Beatles aos Estados Unidos é um dos momentos fundamentais da história da banda e, mais amplamente, do rock mundial. A importância dessa visita é analisada por diversos ângulos através de muitos fatores, como, por exemplo, o fato de que, desde a década de 1960, os Estados Unidos já eram o maior mercado consumidor de discos do mundo; para Epstein e para o grupo, seria um prestígio começar a ser conhecido e bem vendido por lá, como era e ainda é natural nos dias de hoje.
A FAMOSA ENTREVISTA NO AEROPORTO
Fotógrafos a postos. Fãs histéricos. Jornalistas à beira de um ataque de nervos. Seguranças perdidos diante de uma multidão ensandecida. Assim foi a primeira entrevista dos Beatles em solo americano, no último dia 7. A banda já é número 1 na América. A coletiva de imprensa, realizada numa sala do Aeroporto John Fitzgerald Kennedy, em Nova York, já pode ser considerada um marco. Na chegada, John, Paul, George e Ringo foram ciceroneados pelo disc jockey Murray the K. O DJ estreitou laços com o grupo na Europa, alguns meses atrás, quando empresariou bandas que dividiam o palco com os próprios Beatles. Numa mistura de ingenuidade, bom humor e franqueza, os quatro garotos de Liverpool driblaram as mais diversas questões com a sempre afiada ironia inglesa.
O que vocês acham de Beethoven?
Ringo: Muito bom. Especialmente seus poemas (risos).

Murray the K: Tem uma pergunta aqui na frente.
Repórter: (gritando sobre a multidão) Vocês poderiam dizer a Murray the K para parar com essa frescura?
Beatles: (gritando e rindo ao mesmo tempo). Pare com essa frescura, Murray!
Paul: E aí, Murray? (risos)

Repórter: Isto é uma pergunta?
Murray the K: (tentando organizar a bagunça): Vocês ficariam quietos, por favor?!
Repórter: Em Detroit, existem pessoas carregando adesivos nos carros com os dizeres "Mandem os Beatles pra casa".
Paul: É verdade! Nós trouxemos um adesivo "Mande Detroit pra casa" (barulho da platéia na sala cresce).
Repórter: O que vocês têm a dizer sobre a campanha "Mandem os Beatles pra casa"?
John: O que temos a dizer?
Ringo: Qual o tamanho desses adesivos?
Repórter: E os comentários de que vocês não são nada além de uns Elvis do Reino Unido?
John: A pessoa que falou isso deve ser cega.
Ringo: (rebolando igual a Elvis) Isso não é verdade! Isso não é verdade!
John: (imita Elvis dançando) (riso geral)
Fã que invadiu a coletiva: Vocês cantariam alguma coisa, por favor?
Beatles: Não! (risos)
Ringo: Desculpe.
Murray the K: Próxima questão.
Repórter: Existem dúvidas se vocês são mesmo capazes de cantar.
John: Não, queremos o dinheiro primeiro (risos).
Repórter: Todo esse cabelo ajuda vocês na hora de cantar?
John: Claro que sim. Com certeza.
Repórter: Vocês se sentem como Sansões? Se perderem o cabelo, não conseguirão tocar?
John: Não sei.
Paul: Eu também não sei.
Murray the K: Tem uma questão aqui.
Repórter: Quantos de vocês são carecas? Vocês usam peruca?
Ringo: Todos nós somos.
Paul: Eu sou careca.
Repórter: De verdade?
John: Sim.
Paul: Só prometa que não vai contar a ninguém, por favor.
John: Carecas, surdos e burros também (risos).
Murray the K: Silêncio, por favor.
Repórter: Vocês são de verdade?
Paul: Somos sim.
John: Venha até aqui sentir (risos).
Repórter: Vocês irão cortar o cabelo no período em que passarem aqui?
Beatles: Não!
Ringo: Nem a pau.
Paul: Não, obrigado.
George: Eu cortei o meu ontem (risos).
Ringo: É verdade. Ele não está mentindo.
Paul: É a pura verdade.
Repórter: Pensei que o cabelo dele tinha caído.
George: Não perdi cabelo nenhum.
Ringo: Você deveria ter visto ele ontem.
Repórter: O que vocês acham que a música de vocês causa nestas pessoas (se referindo às fãs enlouquecidas no hall do aeroporto)?
Ringo: Eu não sei. Acho que ela as deixa alegres. Bom, deve ser isso mesmo, afinal elas estão comprando nossos discos.
Repórter: Por que elas ficam tão excitadas?
Paul: Não sabemos. De verdade.
John: Se soubéssemos, forjaríamos uma outra banda e seríamos seus empresários (risos).
O texto que a gente confere a seguir, é do livro "O Diário dos Beatles" de Barry Miles.
No dia 7 de fevereiro de 1964, os Beatles partiram no voo 101 da PanAm para Nova York, onde 5 mil fãs os esperavam no aeroporto JFK. A trupe era formada por Paul. Ringo, George, John e Cynthia, Neil Aspinall, Mal Evans, o relações-públicas Brian Sommerville, Brian Epstein, e o produtor musical Phil Spector que, aquela altura não tinha nada ainda com os Beatles. Os rapazes estavam, particularmente, calados. Ringo desabafou com George Harrison: "Eles já têm TUDO o que querem, será que vão NOS querer também?".
Dois dias antes, a primeira cópia da versão alemã das canções foi prensada. Não havia motivo para preocupação. Ed Sullivan já recebera 50 mil pedidos de ingressos para seu show, que só tinha 728 lugares disponíveis e vários fãs já os esperavam no aeroporto JFK desde a tarde anterior. O Boeing 707, que trazia os Beatles, aterrissou às 13h20 em um cenário jamais visto: um céu limpo de inverno, 5 mil fãs, na sua maioria colegiais que faltaram à escola, dispostas em quatro fileiras que lotavam o topo do terminal de desembarque, acenavam com faixas e cartazes com os dizeres "WE LOVE YOU BEATLES" e “BEATLES 4 EVER!”.

"Nunca presenciamos uma recepção como esta. Nunca!.. Nem mesmo para reis e rainhas." - Funcionário do aeroporto JFK.
Além das adolescentes histéricas, 200 repórteres e fotógrafos da rádio, da televisão, das revistas e dos jornais os esperavam. Os Beatles, primeiramente, pensaram que o avião do presidente estava prestes a pousar e, de repente, perceberam que na verdade todos esperavam por eles. Durante dias, as estações de rádio vinham incitando as fãs ao frenesi, até que Murray the K, da rádio 1010 WINS, divulgou os supostos detalhes sigilosos da companhia aérea: a hora de chegada e o número do voo. Informações que foram rapidamente transmitidas pelas concorrentes WABC e WMCA. Mais de 100 jornalistas, todos berrando ao mesmo tempo, os esperavam na saída do setor de imigração e os flashes eram tantos que os cegavam, "Então isto é a América... Todos aqui parecem completamente loucos", disse Ringo. - O cenário no Plaza, o mais luxuoso hotel de Nova York, era caótico: um cordão de policiais, junto com 20 guardas da polícia montada, continham centenas de fãs que cantavam continuamente, como uma espécie de mantra: "Nós os amamos Beatles, amamooooos sim! NÓS os amamos Beatles, até fim!"

Durante o ensaio para o show de Ed Sullivan, em Nova York, Neil Aspinall substituiu George, que estava de cama por causa de uma dor de garganta. intercalado com gritos de "WE WANT THE BEATLES!”. Naquela noite, vários convidados visitaram os rapazes na suíte presidencial, incluindo as Ronettes, o DJ Murray the K e a irmã de George, Louise, que morava em Illinois, mas fora até Nova York para vê-lo. Os Beatles deram uma entrevista por telefone a Brian Matthew, da BBC de Londres, que iria ao ar no dia seguinte, no Saturday Club. Em seguida, leram algumas das mensagens de suas fãs: 100 mil cartas os esperavam quando chegaram a Nova York.
DO AEROPORTO AO HOTEL PLAZA
Tom Wolfe escreveu sobre a chegada dos Beatles no New York Herald Tribune, em seu estilo característico, atento aos detalhes do evento:
"Os Beatles e sua comitiva, deixaram o aeroporto em quatro limusines cadillac, cada uma delas, rumo ao Plaza Hotel, em Manhattan. Logo, um grupo de cinco garotos em um Ford azul-claro pôs-se a segui-los na autoestrada e, conforme ultrapassavam cada um dos Beatles, um dos rapazes, debruçado na janela de trás, acenava com um cobertor vermelho. Em seguida, foi a vez de um conversível branco com a palavra BEETLES escrita na poeira, em ambos os lados do carro. Um carro de polícia, com a sirene tocando e as luzes de alerta ligadas, os seguia, mas os jovens, uma garota na direção e dois rapazes no banco traseiro, acenaram para cada um dos Beatles antes de saírem da estrada, enquanto os policiais gesticulavam. Mas o terceiro carro conseguiu acompanhar a banda por todo o caminho. Uma bela morena, que dizia chamar-se Caroline Reynolds, estudante do Wellesley College, em Connecticut, pagou uma fortuna a um motorista de táxi para seguir os Beatles até o centro da cidade. Ela passou por cada um dos Beatles, com um sorriso maroto, até que alcançou a 'limo' de George Harrison em um semáforo no cruzamento da Third Avenue com a 63rd Street. 'Como se faz para conhecer um Beatle?', perguntou a garota pela janela. 'Você diz 'oi", respondeu Harrison, também, pela janela. 'Oi!', disse ela, 'Oito estudantes de Wellesley estão vindo para cá'. Então, o semáforo abriu e os Beatles foram embora".
ENTREVISTA: BRIAN EPSTEIN - Fevereiro de 1964

O empresário dos Beatles conta como descobriu a banda e explica qual foi a transformação a que submeteu os rapazes para transformá-los em astros internacionais: 'Eles são muito inteligentes'. O empresário por trás do fenômeno: 'Trouxe elegância, habilidade organizacional e dinheiro para eles', diz Brian Epstein.
Epstein era o gerente da loja de discos North End Music Store (NEMS), em Whitechapel, Liverpool, quando um rapaz entrou e pediu um disco dos Beatles, em outubro de 1961. Ele não conhecia a banda, mas aquele nome ficou guardado em sua cabeça. Duas semanas depois, estava no Cavern, um pub sujo e apertado, para assistir a um show dos Beatles em plena hora do almoço. Brian ficou apaixonado pelo carisma dos rapazes e, então, tornou-se o empresário do grupo. Foi graças a ele que os Beatles começaram a se profissionalizar. Mudaram antigos hábitos, como o de comer e fumar no palco, e passaram a usar ternos – tudo com o dedo e a visão de Brian. Foi ele também o principal articulador da bem sucedida viagem dos Beatles aos Estados Unidos. Dos bastidores dos estúdios da CBS, rede de TV americana onde os Beatles se apresentaram, ele concedeu a seguinte entrevista:
Quando o senhor conheceu os Beatles?
Epstein – Foi em 1961. Era um sábado qualquer, no fim de outubro. Um garoto veio à minha loja e pediu um disco de um grupo chamado The Beatles. Sempre foi a nossa política considerar todo e qualquer pedido. Escrevi num bloco de anotações: "My Bonnie. The Beatles. Verificar na segunda-feira". Nunca tinha dado bola para nenhum grupo beat de Liverpool, na época tão populares nos clubes. Não faziam parte da minha vida, porque eu estava além da faixa etária do grupo, e também por estar sempre muito ocupado. O nome "Beatles" não significava nada para mim, se bem que eu lembrasse vagamente de tê-lo visto num cartaz de publicidade anunciando uma noite dançante no New Brighton Tower, e tinha achado a grafia esquisita e despropositada.
E depois disso, o que aconteceu?
Epstein – Na segunda-feira, antes mesmo de eu ter tempo de checar o pedido, duas garotas entraram na loja e pediram o mesmo disco. Muito se especulou sobre isso até agora, mas este foi o número total de pedidos do disco nessa época em Liverpool: três.
Foi o suficiente para o senhor se interessar pela banda?
Epstein – Para mim foi o bastante. Eu achei que era significativo: três pedidos de um disco desconhecido em dois dias. Havia alguma coisa aí. Na época, eu estava interessado no panorama musical de Liverpool. Cheguei até a escrever um artigo sobre isso para o Mersey Beat, um jornal quinzenal de música popular, fundado por Bill Harry, um estudante da escola de arte e amigo dos Beatles. Acho até que eles já tinham ouvido falar de mim.
E o que o senhor fez então?
Epstein – Fiz contatos e descobri o que não tinha percebido ainda: que os Beatles eram um grupo de Liverpool, que acabara de retornar do extremo quente, úmido e sujo de Hamburgo, onde haviam tocado em clubes barra-pesada. Aí uma garota que eu conhecia me disse: "Os Beatles? São o máximo. Estão no Cavern esta semana". Então fui lá conferir.
E como foi o encontro?
Epstein – Foi estranho no começo. Fui até o camarim improvisado e cumprimentei os rapazes. Eles foram educados, mas pouco receptivos. Acho que já sabiam do meu interesse em empresariá-los, mas não quiseram demonstrar que estavam interessados também. Ficaram na defensiva, mas eu sabia que eles estavam empolgados com a ideia.
O senhor então se tornou o empresário dos Beatles, e decidiu mudar a postura da banda. Como foi essa transformação?
Epstein – Acho que os tornei mais profissionais. Os Beatles são muito inteligentes, sagazes, mas não eram requintados. Trouxe isso para eles: elegância, habilidade organizacional e dinheiro. Primeiro, estimulei-os a tirar as jaquetas de couro e, então, proibi que aparecessem de jeans. Depois disso, fiz com que usassem suéteres no palco e, por fim, com muita relutância, ternos. Não tenho certeza, mas acho que o primeiro terno foi usado para uma transmissão ao vivo da BBC. Ah, e proibi que eles fumassem e bebessem no palco também, hábitos pouco condizentes para uma banda que busca o sucesso.
Como surgiu o seu interesse pela música beat?
Epstein – Meus pais eram proprietários de uma grande cadeia de lojas de móveis sediada em Liverpool. Portanto, desde criança, fui criado para administrar o negócio deles. Eu estudei na Academia Real de Arte Dramática e sabia que tinha que trabalhar em algo ligado ao meio artístico. Tornei-me gerente da NEMS e acabei transformando a rede de lojas de discos em uma das maiores do norte da Inglaterra. Há uns dois anos, mais ou menos, notei que houve um aumento muito grande na procura pela música beat, típica das bandas de Liverpool. Achei então que empresariar os Beatles seria um projeto interessante.
O senhor foi o principal responsável pela vinda dos Beatles aos EUA. Por que achava que ela seria tão importante assim?
Epstein – Sabia que os Estados Unidos podiam nos promover ou acabar conosco. Então, tivemos que montar uma grande estratégia para tornar os Beatles conhecidos na América, antes mesmo de eles chegarem. Fizemos uma campanha publicitária forte, nas lojas de discos e nas rádios dos EUA, puxada por um disco que acabou conquistando o gosto dos americanos. No fim das contas, acho que nossa vida vai mudar daqui para frente.
O senhor e John Lennon viajaram juntos para Espanha recentemente. Alguns jornais fizeram insinuações sobre algum envolvimento amoroso entre os dois. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Epstein – Nada. Não falo sobre esse assunto.
É isso aí! Fim da parte 1.

THE BEATLES EM WASHINGTON - 1964


No dia 11 de fevereiro de 1964 – apenas dois dias depois da apresentação histórica no The Ed Sullivan Show – Os Beatles fizeram história novamente nos Estados Unidos no primeiro concerto no Washington Coliseum. Naquele dia, uma tempestade de neve atingiu a costa leste e todos os voos foram cancelados; portanto, para que os Beatles pudessem ir a Washington D.C.,foi acrescentado ao trem da Pennsylvania Railroad, o King George, um antigo vagão-leito que fazia parte da linha Richmond, Fredericksburgand Potomac. Quando chegaram à estação, a imprensa havia lotado o vagão, a cada parada, os câmeras se espremiam do lado de fora das janelas.

Três mil fãs enfrentaram 30 centímetros de neve para dar-lhes as boas-vindas na Union Station, em Washington, onde eles logo fizeram uma coletiva de imprensa. Em seguida, visitaram a WWDC, a primeira estação de rádio americana a tocar um disco dos Beatles, onde foram entrevistados pelo DJ Carroll James.
The Beatles e sua comitiva ficaram hospedados no Shoreham Hotel, ocupando todo o sétimo andar, cujo acesso foi bloqueado aos fãs. Uma família de hóspedes negou-se a deixar seu quarto; portanto, a administração do hotel cortou o aquecimento central, a água quente e a eletricidade, alegando falha elétrica. A família, contrariada, acabou se mudando para outro andar. Aproximadamente 8 mil fàs, em sua maioria garotas, assistiram ao show no Washington Coliseum, sob a proteção de 362 policiais, sendo que um deles usou balas de revólver como protetores de ouvido, por causa da altura do som. Os Beatles tocaram: "Roll Over Beethoven", "From Me To You, "I Saw Her Standing There', "This Boy", All My Loving", I Wanna Be Your Man”, "Please Please Me”, “Till There was you”, “She Loves You”, “I Want To Hold Your Hand”, “Twist And Shout" e Long Tall Sally", Além do quarteto de Liverpool, tambem fizeram parte do show The Chiffons e Tommy Roe. Depois desse show, Lady Ormsby-Gore ofereceu uma recepção na Embaixada Britânica. Houve um baile a rigor em prol da associação de proteção a criança, e ao final, foi pedido aos Beatles que entregassem os prêmios da rifa. A comunidade britânica, debutantes e aristocratas arrogantes, tiveram um comportamento lamentável, e uma mulher chegou a cortar uma mecha do cabelo de Ringo, bem atrás da orelha esquerda. John afastou todos os que pediam autógrafos reclamando: "Essa gente não tem a mínima educação" e, agarrando Ringo pelo braços disse, "Estamos indo". Ringo o acalmou, entregaram os malditos prêmios e partiram. Naquela noite, os Beatles exigiram que Brian nunca mais os expusesse aquele tipo de situação. No dia seguinte, o destino era novamente Nova Iorque. Duas apresentações ocorreriam no Carnegie Hall. Os Beatles voltariam no mesmo trem e, ao chegarem, sua limusine ainda não estava na estação, pois os fãs haviam bloqueado toda a passagem das ruas. Eles tiveram que ir para o hotel de táxi, de onde tiveram que sair, mais tarde, usando o elevador dos fundos e a cozinha. Somente aqui no nosso blog preferido, a gente confere o show inteiro! Yeah, yeah, yeah!
 

THE BEATLES - A CONQUISTA DO OESTE - PARTE 2


Indiscutivelmente, 1964 foi o ano decisivo para a carreira dos Beatles e do “fenômeno” mundialmente conhecido como “Beatlemania”. E o dia 9 de fevereiro, entraria para a história do mundo e da música, como o dia mais importante de suas carreiras. “O dia em que os gigantes andaram sobre a terra pela primeira vez”. Naquele dia, os Beatles – quatro rapazes do norte da velha Inglaterra – conquistaram numa paulada só, todo os Estados Unidos: público, crítica, gravadoras e distribuidoras. O trabalho de marketing que Brian Epstein fez antes, durante e depois da primeira apresentação dos Beatles nos Estados Unidos, foi louvável, no mínimo brilhante e absolutamente sensacional. Isso deveria ser ensinado hoje nas “Escolas Superiores de Propaganda”. Ali, quando aterrisaram e saíram do avião em Nova York, os Beatles comprovaram tudo que Brian lhes prometera quando fizeram o acordo. Naquele dia, nascia a tal da “globalização”: os dois lados do Atlântico totalmente dominados. Nenhum outro grande conquistador da história havia consseguido isso. Pela primeira vez, o mundo falaria uma mesma língua: Yeah, yeah, yeah!

Caros amigos: esta é a 2ª parte do especial “THE BEATLES – A CONQUISTA DO OESTE”. Espero (claro) que gostem e se divirtam antes de tudo. A parte 3 (e última) será no dia 21 de fevereiro, quando os Beatles finalmente voltaram para casa, depois de todo o “tsunami” que causaram nos States. Não deixem de conferir. Imperdível!

Esta matéria que a gente confere a seguir, foi publicada no site da revista Veja (http://veja.abril.com.br/historia/beatles-beatlemania-1964/show-ed-sullivan-tv-conquista-america.shtml
) e eu acabei achando legal porque quem “fez” a matéria, a deixou ‘quase’ como se tivesse sido escrita realmente em fevereiro de 1964. Na verdade, o primeiro nº da revista (impressa) foi em 10 de 1968 e a chamada da capa era “O grande duelo no mundo comunista”.

A espera foi longa e sofrida – ao menos para os padrões de um adolescente que não consegue tirar alguma coisa da cabeça. Demorou mais de um ano desde que eles estouraram na terra da rainha, mas os americanos finalmente puderam ver de perto os Beatles, o jovem fenômeno britânico que contagia multidões e enlouquece seus fãs, no último dia 9, no Ed Sullivan Show, da TV CBS. A audiência televisiva da apresentação, realizada num teatro da Broadway, em Manhattan, foi nada menos que impressionante: 73 milhões de pessoas ficaram grudadas à tela durante a exibição. A partir do momento em que Paul McCartney abriu a boca para cantar close your eyes and I’ll kiss you (de All My Loving), não tinha mais volta. Não há um canto da América que não tenha sucumbido à febre da chamada "beatlemania".

Foram cinco canções apenas: All My Loving, Till There Was You, She Loves You, I Saw Her Standing There e I Want To Hold Your Hand. E foi o bastante para que os Beatles tivessem os Estados Unidos a seus pés. Mas o começo ainda foi tenso, por conta de um contratempo: o guitarrista George Harrison só conseguiu subir ao palco às custas de muito remédio, por causa da violenta gripe com a qual tinha desembarcado na América. George não participou da passagem de som e nem do teste de palco para as câmeras, realizados no dia 8. Quando os Beatles tocaram Till There Was You, John Lennon foi enquadrado pela câmera, e uma legenda divertida apareceu: Sorry girls – he’s married ("Desculpem, garotas – ele é casado"). Segundo a produção do programa, a platéia que assistiu os Beatles dentro do estúdio da CBS foi de 728 pessoas – todas elas agora na mira da inveja de dezenas de milhões de fãs.

Não é para menos. A apresentação dos Beatles no programa já entrou para a história. Há mais de uma década, o carismático Ed Sullivan apresenta o show de variedades que se tornou uma verdadeira instituição americana. Todos os domingos, às 20 horas em ponto, os telespectadores ligam a TV e não perdem uma cena do programa, transmitido ao vivo – não só para ver nomes consagrados da música popular, mas também para descobrir novas tendências e talentos promissores. Com os Beatles não foi diferente, ainda que tenham se apresentado entre comediantes e shows de mágica. Na noite em que os quatro rapazes ingleses tomaram o palco, algo de muito especial aconteceu. Numerosos artistas já tiveram a chance de se apresentar ali. O impacto do show dos britânicos, porém, parece ter sido mais poderoso do que qualquer outro.

Um exemplo? A polícia de Nova York informou que, durante o tempo em que os Beatles se apresentaram naquela noite de domingo, não houve um crime sequer reportado nos Estados Unidos. Ao ser questionado sobre isso, George Harrison brincou: "Até os criminosos pararam durante 15 minutos enquanto estávamos no ar". E ele está certo. Difícil ficar indiferente a uma apresentação da banda. Não é apenas o charme de John, Paul, George e Ringo que contagia. As melodias são memoráveis e as letras das canções são diretas e coloquiais, criando um elo emocional instantâneo entre os quatro garotos e seus fãs. As mensagens são claras: "de mim para você", "ela te ama", "quero segurar sua mão". Nada mais simples, nada mais doce. Os Beatles, pelo que se vê, aprenderam esse truque ouvindo muito Carole King e Gerry Goffin, do Brill Bulding.

Quando a gravadora Capitol lançou I Want To Hold Your Hand e I Saw Her Standing There, em 26 de dezembro do ano passado, o coração da indústria musical americana já estava preparado. Já na semana seguinte, o disco entrou na parada, em 83º lugar,pulando para 42º na outra semana e chegando ao topo em 15 de janeiro. Os Beatles, que na ocasião estavam trabalhando duro em Paris, comemoraram com o empresário Brian Epstein (que colocou um penico na cabeça imitando um chapéu) e com o produtor George Martin, os dois mentores do sucesso do grupo.

Antes da primeira incursão até os EUA, a Capitol montou um cuidadoso esquema de divulgação, incluindo anúncios, aparições promocionais e até peças publicitárias.Além da agenda montada pela gravadora, Brian havia planejado outras aparições para a banda. Com muita insistência, convenceu Sullivan a receber os Beatles em seu conceituado programa de TV. Quando o apresentador estreou seu show, em 1947, já era respeitado nos bastidores da TV americana (ele vem do colunismo social e também teve passagem pelo rádio). O programa dele, contudo, não foi o único responsável por dar início à febre.

Na verdade, a conquista dos Estados Unidos começou já no dia 7, quando o voo 101 da Pan Am aterrissou em Nova York, no Aeroporto Internacional da cidade (que há dois meses passou a ser chamado de John F. Kennedy, em tributo ao presidente morto no ano passado). No exato instante em que os Beatles pisaram pela primeira vez em solo americano, cerca de 10.000 fãs entraram em delírio à beira da pista. E a cena atraiu a atenção do mundo todo. A histeria da beatlemania é algo até hoje nunca visto, nem nos anos de Elvis Presley.

Aproximadamente duzentos jornalistas estavam a postos no saguão do aeroporto. Os repórteres pareciam certos de que conseguiriam arrancar alguma declaração tola ou polêmica dos rapazes. Mas os quatro lançaram mão de seu charme e irreverência e dobraram qualquer resistência à sua chegada. Quando um repórter perguntou sobre um movimento em Detroit para acabar com os Beatles, Paul respondeu: "Nós também temos nosso movimento para acabar com Detroit". Quando a entrevista começou a ficar muito barulhenta, John soltou um sonoro "calem a boca". Todos riram. No dia seguinte, o jornal londrino The Times publicou: "O humor dos Beatles é contagiante".

Os garotos de Liverpool não são, contudo, uma unanimidade. O mundo adulto não sabe bem o que fazer com eles. Boa parte da imprensa "séria" americana tratou o quarteto com condescendência. Como a abertura da reportagem da revista semanal Newsweek: "Visualmente, são um pesadelo. Ternos eduardianos apertados e cabelos em forma de tigela. Musicalmente, um desastre: guitarras e bateria detonando uma batida impiedosa, que afugenta ritmo, melodia e harmonia. As letras (pontuadas por gritos de ‘yeah, yeah, yeah’) são uma catástrofe, um amontoado de sentimentos baseados em cartões do dia dos namorados".

Seguindo a mesma linha, O New York Daily News publicou: "Bombardeada com problemas ao redor do mundo, a população voltou seus olhos para quatro jovens britânicos com cabelos ridículos. Em um mês, a América os terá esquecido e vai ter que se preocupar novamente com Fidel Castro e Nikita Krushev". Mas será mesmo que eles logo mergulharão de volta à obscuridade? Os Beatles podem parecer estranhos a princípio, quase como bonecos. Mas uma os difere do resto das estrelas que dominam as paradas de sucessos hoje em dia: ninguém os manipula. O jovem quarteto provou que artistas pop não têm que ser falsos ou bobos, ou uma combinação de ambos. O importante é que são reais. Fumam, bebem, até falam palavrões. E derrotam seus inimigos com charme e um doce sorriso.

Na virada para 1964, os Beatles se tornaram a maior banda do mundo. Agora, há uma câmera ligada em qualquer lugar em que estejam. A visita aos EUA só potencializou o espantoso assédio a que são impiedosamente submetidos: são filmados ou fotografados dentro do avião, com a multidão à espera no aeroporto, no desembarque, na entrevista coletiva, dentro da limusine, no hotel, nos estúdios de rádio do DJ nova-iorquino Murray the K (talvez o maior incentivador da beatlemania nos EUA), e, claro, no palco do Ed Sullivan Show. As lentes que capturaram a eletrizante apresentação dos quatro no programa, porém, fizeram mágica. Transmitiram para mais de 70 milhões de pessoas uma sensação que já tinha conquistado multidões de fãs do outro lado do Atlântico. Apostar que tenha sido apenas uma febre momentânea parece no mínimo arriscado.

A mesma edição traz ainda um texto bem legal do próprio George Martin.
A FÁBRICA DE HITS
O produtor responsável pelas gravações de sucesso dos Beatles explica como conseguiu capturar a essência do grupo e registrar em disco toda a energia que os rapazes apresentavam no Cavern

Minha admiração pelos Beatles começou antes mesmo de eles pisarem nos estúdios da EMI, em Abbey Road, onde trabalho como produtor musical. Eu tinha estado no Cavern e visto uma apresentação deles, conhecia seu repertório, sabia o que podiam apresentar, e então disse: "Vamos gravar todas as músicas que vocês têm. Venham até o estúdio e faremos uma gravação rápida em um dia". Começamos por volta das 11 da manhã, terminamos às 11 da noite, e gravamos um álbum completo durante esse tempo. Portanto, podemos dizer que o primeiro LP dos Beatles foi gravado em doze horas.
O primeiro álbum foi, na verdade, uma amostra do repertório deles. Normalmente, gravamos singles, e as músicas que não são lançadas como singles vão para os álbuns. O segundo LP, With The Beatles, também foi feito assim. É apenas uma coleção de suas músicas, e uma ou outra feita por outras pessoas. Só agora isso está mudando, as bandas estão começando a pensar um álbum como algo completo e com identidade própria. Já estamos comprometidos com essa nova ideia para o próximo disco, que será lançado neste ano.
Inicialmente, os Beatles não tinham muita experiência em gravações. A coisa funcionava de um jeito muito simples: eles ensaiavam uma música e ela era gravada em seguida. Eu os encontrava, trabalhava no material disponível e pedia que apresentassem a próxima. Eles então ensaiavam e a gente gravava. Foi somente depois do primeiro ano que eles começaram realmente a se interessar por técnicas de estúdio. Agora são mais exigentes e por isso nem sempre tudo fica pronto no primeiro take. Eles escutam e aí repetem tudo duas ou três vezes até conseguirem o que querem. Mas isso começou agora. Só mais recentemente puderam arcar com mais tempo de estúdio e refazer todas as gravações que desejam. Como produtor musical, não tenho grande influência nas letras dos Beatles. Apenas digo quando acho que uma letra não soa muito bem, ou sugiro que façam outros oito compassos ou mais, mas eles normalmente me dão as músicas prontas. Meu trabalho é principalmente contribuir com ideias para os arranjos. Devo confessar que, no ano passado, cheguei a pensar que os Beatles não durariam. Mas foi muito gratificante quando eles chegaram no topo das paradas. Levou um ano inteiro até conseguirem um sucesso internacional. Só agora alcançaram o primeiro lugar nos Estados Unidos – todo o ano de 1963 foi dedicado a consolidar o nosso trabalho na Inglaterra. Lançamos vários singles de sucesso, como Please Please Me, From Me To You, She Loves You e I Want To Hold Your Hand. Assim que gravávamos, eu mandava uma cópia para meus amigos da Capitol Records, nos EUA, dizendo: "Este grupo é fantástico, vocês precisam ouvi-los, lançá-los e vendê-los aí". E era sempre a mesma coisa. Eles recusavam, dizendo: "Sinto muito, mas conhecemos nosso mercado melhor do que você, e além disso eles não são muito bons". Fico imaginando o que eles devem estar pensando agora.

Para terminar, a gente confere o que Barry Miles fala no livro "O Diário dos Beatles" sobre o histórico 9 de fevereiro de 1964:

Studio 50, West 53rd Street. Durante toda a manhã, os Beatles ensaiam para o Ed Sullivan Show. A tarde, eles gravam músicas para outro Ed Sullivan Show, que seria levado ao ar depois que deixassem o país. Este seria o terceiro show da banda - o primeiro seria exibido ao vivo naquela noite e o segundo seria transmitido ao vivo da Flórida, em 16 de fevereiro. Para a "terceira" apresentação eles gravaram: "TwistAnd Shout", "Please Please Me" e "I Want To Hold Your Hand". O público que participou da gravação do terceiro show foi diferente do que compareceu à transmissão ao vivo naquela noite, que também contou com a participação de Gordon e Sheila MacRae e The Cab Calloway Orchestra. Os Beatles abriram o show às 20h com "All My Loving", "Till There Was You" e "She Loves You", em seguida houve uma pausa comercial do analgésico Anadin, e outros convidados Sullivan se apresentaram - Georgia Brown & Oliver Kidds, Frank Gorshin, Tessie O'Shea. Após outro intervalo comercial, agora dos cigarros Kent, os Beatles fecharam o show com "I Saw Her Standing There" e "I Want To Hold Your Hand". Foram 13 minutos e meio de televisão que mudaram a cara da música popular americana. De acordo com a pesquisa Nielsen, 73.700.000 pessoas assistiram aos Beatles no Ed Sullivan Show, um recorde de audiência não só do programa, como da história da TV. Meia hora antes de subir ao palco, Brian Sommerville entregou-lhes um telegrama: "Parabéns pela participação no Ed Sullivan Show e pela visita aos Estados Unidos. Esperamos que o programa seja um sucesso e a sua estada no país agradável. Lembranças ao sr. Sullivan. Atenciosamente, Elvis & o "Coronel". George leu o telegrama e perguntou com a maior cara de pau, "Quem é esse tal de Elvis?". Após o programa, Murray the K levou os Beatles ao Playboy Club; mas George não pode acompanhá-los, pois ainda estava com dor de garganta. Protegidos por uma escolta policial, aventuraram-se a caminhar algumas quadras até a 59th Street, onde foram rapidamente levados ao bar do clube para jantar. Mais tarde, foram à discoteca Peppermint Lounge, o berço do twist, onde Ringo brilhou dançando com uma jovem chamada Geri Miller ao som dos Beatles. Os rapazes foram embora às 4h.

De tudo, o que acho mais legal, foi que os Beatles não tremeram e em nenhum momento se fizeram de rogados. Não eram apenas caipiras ingleses que se apresentavam ali. Eles (os quatro), estavam incrivelmente limpos, bonitos, e usando os ternos “Dior”, com os cabelos cuidadosamente penteados. Sabiam bem da missão que iriam cumprir. Embaixo daquilo tudo, das roupas, das botas e dos cabelos, eles ainda eram (quase) os mesmos meninos Beatles que pouco antes (menos de 3 anos) saíram de Liverpool, para conquistar primeiro os alemães, em Hamburgo. Agora, os Beatles eram os “reis”: do pop, do rock, do strot... de qualquer coisa! Esses Estados Unidos e sua gente, nunca tinham visto nada parecido antes. Nem seu próprio rei, Presley. Ainda durante a chegada no aeroporto JFK, eles já sabiam: “TÁ TUDO DOMINADO!”. E estava mesmo! ‘Vimos, viemos e conquistamos!’ – John Lennon. E agora, vamos ao que mais interessa: os Beatles quebrando o cacete no show do Ed Sullivan em 9 de fevereiro de 1964. Abração em todos! "AND NOW... HERE THEY ARE: THE BEATLES!"

THE BEATLES - A CONQUISTA DO OESTE - PARTE 3

O INCIDENTE NA EMBAIXADA
Após o show de 11 de fevereiro, lady Ormsby-Gore ofereceu uma recepção na Embaixada Britânica. Houve um baile a rigor em prol da associação de proteção à criança, National Association for Prevention of Cruelty to Children, e, ao final, foi pedido aos Beatles que entregassem os prêmios de uma rifa. A comunidade britânica, debutantes e aristocratas arrogantes, tiveram um comportamento lamentável, e uma mulher chegou a cortar uma mecha do cabelo de Ringo, bem atrás da orelha esquerda. John afastou todos os que pediam autógrafos reclamando, "Essa gente não tem a mínima educação" e, agarrando Ringo pelo braço disse, "Vamos embora!". Ringo o acalmou e, então, entregaram os prêmios e partiram. A banda exigiu que Brian nunca mais os expusesse a esse tipo de situação.
No dia 12 de fevereiro, os Beatles pegam o trem de volta para Nova York. A viagem durou duas horas, mas, quando lá chegaram, sua limusine não estava na estação, pois, em virtude do feriado da comemoração do nascimento de Abraham Lincoln, as escolas estavam fechadas e 10 mil fãs os aguardavam, bloqueando as ruas ao redor de Penn Station. Eles foram levados para o hotel às escondidas em táxis comuns, onde fizeram a barba, tomaram banho, vestiram-se e saíram clandestinamente, usando o elevador dos fundos e escapando pela cozinha. Seu destino era o Carnegie Hall, a poucas quadras do hotel - a mais famosa casa de espetáculos do país, onde fariam duas apresentações de 25 minutos. Enquanto The Briarwoods, uma banda de folk'n 'roll, aquecia a plateia, nos bastidores os Beatles receberam um disco de ouro da Swan Records pela vendagem de um milhão de cópias de "She Loves You", além da visita de Shirley Bassey.
Nevava em Nova York e, após o show, o promotor de eventos Sid Bernstein levou Brian para fora do teatro e ofereceu-lhe 25 mil dólares, além de uma doação de 5 mil dólares para a fundação britânica de combate ao câncer, por uma apresentação da banda no Madison Square Garden que marcariam para dali a poucos dias. Sid garantiu que os ingressos se esgotariam na hora, mas Brian respondeu, "Quem sabe numa próxima vez". Nessa noite, a última que os Beatles passaram em Nova York, saíram do Plaza à lh30 e foram ao Headliner Club, em seguida, ao café Improvisation, em Greenwich Village. Voltaram para o hotel ao amanhecer e encontraram um repórter do lado de fora que ainda estava à sua espera. Ele lhes perguntou se tinham tido uma noite tranquila.
Murray the K (http://obaudoedu.blogspot.com/2011/11/murray-k-o-quinto-beatle.html) os acompanhou, além de dividir os aposentos com George, uma suíte com três quartos, protegida por seguranças da agência Pinkerton. (George ficara irritado e nunca conseguiu entender como o abusado DJ de Nova York conseguiu acompanhá-los por toda a viagem.) À noite, foram à discoteca Mau Mau Lounge, onde assistiram à banda The Coasters e dançaram "Mashed Potato". Murray the K levou-os para ver Hank Ballard e The Midnighters em outra disco­teca, o Miami Peppermint Lounge, onde foram cercados por caçadores de autógrafos, tendo de ir rapidamente embora. Atendendo a milhares de pedidos, a Granada TV reprisa o documentário Yeah, Yeah, Yeah! - The Beatles In New York, dos irmãos Maysles.
O dia 14 de fevereiro foi repleto de atividades: um breve ensaio para o Ed Sullivan Show; uma sessão de fotos para a revista Life na piscina da casa de um executivo da Capitol Records; e um passeio por Miami Harbour, em um luxuoso barco, oferecido por um tal de Bernard Castro. Dois repórteres, escondidos a bordo, foram encontrados e o barco voltou à costa, para que pudessem ser expulsos. O segurança particular dos rapazes, o sargento Buddy Bresner, levou-os até sua casa para que pudessem conhecer sua mulher e seus filhos - Dottie, Barry, Andy e Jeri -, e lhes preparou uma típica refeição americana: rosbife, vagem, batatas assadas, ervilhas, salada e um enorme bolo gelado de morango. À noite, ficaram no hotel e assistiram aos shows nos nightclubs do hotel: os comediantes Don Rickells e Myron Cohen e a cantora Carol Lawrance. Não jantaram, pois o farto almoço na casa de Bresner os deixara mais do que satisfeitos.
Na manhã do dia 15, vestindo calções de banho, os Beatles ensaiam no Napoleon Room do hotel. Às 14h, fizeram o ensaio de figurino para o Ed Sullivan Show para uma plateia de 2.500 pessoas, muitas das quais haviam esperado em fila fora do estúdio desde as primeiras horas da manhã. Em seguida, a banda passa o restante do dia pescando. A ABC TV transmite a entrevista dada pelos Beatles por telefone a Dick Clark, apresentador do programa American Bandstand.
No dia 16 era o Ed Sullivan Show, que foi gravado no próprio Deauville Hotel. A CBS distribuiu 3.500 ingressos, entretanto a lotação do local era de 2.600 lugares. A polícia teve de enfrentar o tumulto causado pelos fãs, que, mesmo com ingressos perfeitamente válidos nas mãos, tiveram sua entrada proibida.
O quarteto tocou: "She Loves You", "This Boy", "All My Loving", "I Saw Her Standing There", "From Me To You" e "I Want To Hold Your Hand". Os boxeadores Joe Louis e Sonny Linston estavam na plateia. A atriz, cantora e dançarina Mitzi Gaynor foi a atração principal do programa, mas os 70 milhões de espectadores que estavam assistindo ao show queriam, na realidade, ver os Beatles. Maurice Landsberg, o proprietário do hotel, ofereceu uma pequena festa para os artistas e os técnicos do programa. Um jantar self-service com lagosta, carne, frango e peixe. No dia 17, os Beatles esquiam na água pela primeira vez. A música "I Wanna Be Your Man", dos Rolling Stones, de autoria de Lennon & McCartney, é lançada em compacto nos Estados Unidos pela gravadora London (9641).
No dia 18 de fevereiro, em seu dia de folga, os Beatles, provavelmente instigados por Paul, quiseram visitar Cassius Clay, no ginásio de treinamento onde ele estava se preparando para a revanche contra o campeão Sonny Liston. Os fotógrafos enlouqueceram quando o ex-campeão dos pesos-pesados, Cassius Clay, levantou Ringo como se este fosse leve como um pluma. Link para a postagem sobre esse evento: " THE BEATLES X CASSIUS CLAY" - http://obaudoedu.blogspot.com/2010/09/beatles-x-cassius-clay.html
Depois, ainda participaram de um churrasco nos jardins da casa de um milionário, onde comeram os maiores filés que já haviam visto na vida e, ainda, pilotaram lanchas de corrida pela primeira vez. A noite, foram a um drive-in assistir ao filme 'Seresteiro de Acapulco', estrelando Elvis Presley.
Finalmente, no dia 21 de fevereiro, o grupo pega um voo de Miami para Londres, com escala em Nova York. No dia 22, os Beatles chegam em Londres às 8h10 em meio a uma tumultuada recepção de boas-vindas. Concederam uma entrevista coletiva no salão Kingsford-Smith no aeroporto, que, posteriormente, foi exibida pela BBC TV no programa esportivo Grandstand. Informações sobre a volta da banda também foram transmitidas nos noticiários das rádios e outros programas. Fonte do texto: "O Diário dos Beatles" - Barry Miles.
FIM